quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Quem morre de véspera é peru

Agora irmãos, vou falar a verdade. A crueldade que fazem com a gente, só por nossa cor ser diferente. Somos constantemente assediados pelo racismo cruel. Bem pior que fel é o amargo de engolir um sapo, só por ser preto, isso é fato. O valor da própria cor, não se aprende em faculdades ou colégios, e ser negro, nunca foi um defeito e será sempre um privilégio. Privilégio de pertencer a uma raça, que com o próprio sangue construiu o Brasil. Partindo da premissa da letra da banda de rap brasiliense Câmbio Negro, na música intitulada Sub-Raça, veremos no texto a seguir, que há muito o que fazer quando tratamos do assunto em voga: racismo. Na primeira partida válida pela fase de grupos da Taça Libertadores da América, no jogo entre o time peruano do Real Garcilaso e o brasileiro Cruzeiro, uma cena chamou a atenção do mundo: as imitações com sons de macacos feitos por uma parte da torcida da equipe peruana. Nascido em 08 de março de 1949, Teófilo Cubillas Arizaga, é considerado o maior jogador peruano de todos os tempos e está na lista dos 50 maiores jogadores do século XX, além de ser o maior goleador do selecionado peruano e o oitavo maior artilheiro na história das Copas. Pela seleção de seu país, conquistou a Copa América de 1975 e disputou três Copas do Mundo: 1970, 1978 e 1982. Jogador de família humilde tinha a predominância da cor negra. O comportamento selvagem e racista de alguns torcedores peruanos não é de agora e tem a condescendência da imprensa local. No ano passado, antes da partida decisiva pelas eliminatórias entre Peru e Equador, em Lima, os termos mono e monito (macaco e macaquinho) ganharam as manchetes dos jornais esportivos peruanos durante dias seguidos. O jornal Depor, por exemplo, usou como manchete em 2013, durante as eliminatórias para a Copa, os seguintes dizeres: “Para freir monos” (Para fritar macacos). Já o diário de esportes Líbero, instigou: “ Que los monitos traigan canasta para los goles”. (Que os macaquinhos tragam cestas para os gols). Lembrando que o Peru é um país onde a maior parte da população é indígena. Na tese de doutoramento de Neide Maria de Oliveira Sobrinho (2008), da Universidade de Brasília(UNB), mostra que no Peru os europeus entram com 15% de participação na composição genética da população, os ameríndios com 73% e 4,4% de africanos. O Peru tem maior influência africana que no Equador e que tem menos influência indígena e quase o dobro de contribuição europeia na composição genética nacional. Então! Tanto Peru como Equador são mestiços, porém distintos. Enquanto os equatorianos nunca demonstraram brutalidade e recismo como os peruanos, que imitaram macacos para humilhar o volante Tinga, os peruanos insistem em fomentar a discriminação racial. Aliás, o meia cruzeirense declarou que também sofre com preconceito no Brasil e afirma que se vê no olhar de cada um. Na história, sabe-se que colonizadores europeus dividiam as etnias africanas de acordo com seus próprios moldes raciais: os “negros nilóticos” (etíopes, núbios, somalis e os tutsis de Ruanda) tinham feições mais finas e foram considerados superiores a outras etnias menos assemelhadas ao padrão europeu. O racismo no Peru vai além do futebol. A Universidad del Pacífico publicou um ensaio onde 39% dos entrevistados declararam sentir-se discriminados por raça em seu próprio país. No Peru, a imprensa esportiva incentiva o povo ao racismo e o governo nunca se importou com a população de origem africana. Países vizinhos como Brasil, Bolívia, Equador e Colômbia reconhecem suas populações afrodescendentes dentro de suas Constituições e têm dedicado políticas para o seu desenvolvimento. Jorge Ramírez, ativista peruano, declarou: “As pessoas precisam entender que nós não só sabemos dançar ou tocar instrumentos musicais; também podemos pensar em ocupar cargos importantes. Por anos estivemos esperando, e os afro-peruanos continuam sendo humilhados, maltratados e excluídos. Se o Estado não agir agora, nós vamos continuar vítimas desse racismo estrutural”. Enquanto as minorias peruanas aguardam as medidas compensatórias do Estado peruano contra o racismo estrutural, divagamos a respeito do comportamento desse povo sofrido e como diria a canção de Caetano Veloso: “De ladrões mulatos e outros quase brancos tratados como pretos, só para mostrar aos outros quase pretos (e são quase todos pretos), e aos quase brancos pobres como pretos, e pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos”. O Haiti não é o Peru e o Peru não é o Haiti, mas perante o respeito, princípios e valores, somos todos iguais.

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